quarta-feira, 15 de junho de 2011

Reviver

Somos mesmo muito tolos...
Vivemos uma vida toda de correria, de renúncias para quem mais amamos e nos ama para alcançarmos muito pouco que nos consome quase que por inteiros...
Vivemos como abestalhados pela fortuna que chegará no futuro...aí o carro será melhor, a viagem será mais longe, a casa mais espaçosa, ar condicionado, melhores roupas e sapatos...ou talvez e até quem sabe, outros amigos...
A verdade é que não admitimos...mas somos simplesmente hipócritas!
Reduzimos ao máximo nosso tempo com nossos filhos, afinal temos que trabalhar arduamente se quisermos mesmo vencermos!
Os colegas deles são as melhores companias...será mesmo?!
Damos duro para dar o computador de última geração...assim eles permanecem "concentrados" nos estudos(?)
Amigos??? Ora, é só enviar-lhes e-mails que eles vão ficar satisfeitos...
E os abraços tão calorosos?! Ah! Isso a gente faz em algumas confraternizações(sabe, estas de finais de ano...)
Nossos filhos estão crescendo, nossos amigos estão indo embora, nossos pais estão envelhecendo!Isso é real e urgente!
Mas o trabalho, a correria, o medo de perder o ônibus, a pressa, o desespero, o desassossego, a preocupação, etc, etc, etc...
Um filho procura por várias vezes o colo, o abraço e, consequentemente o beijo e não encontra...
Um amigo liga desesperado : quer ajuda, um conselho, precisa, enfim, desabafar...e dizemos : " te ligo mais tarde" e simplesmente esquecemos!
Não lembramos mais de saudar os vizinhos com um caloroso "bom dia", "boa noite"...
Aliás, vizinhos...é melhor ignorá-los, pois só dão problemas...
Nos consideramos auto-suficientes, super independentes...
Não jogamos nem mais "conversa fora"...e nem mesmo ( e muito menos ainda) "conversa dentro"!
Não nos declaramos, afinal isso é coisa antiquada, já e por demais ultrapassada...E quem é que disse que existe mesmo Amor?! Loucura, delírio, utopia...
Fora amizade...fora família...xô saudade...desapareça esperança...cai fora dor de coração apaixonado!!!
Estamos nos rebelando imperceptivelmente contra tais sentimentos e fingimos que não percebemos isso e, o pior, é que talvez não o estamos fazendo mesmo...
Estamos nos tornando insensíveis...imitando as grossas camadas de cortiça que protegem os caules das árvores cerradeiras...mas estas protegem-se das ardentes queimadas e da escassez de chuva...e nós?!
Do que tanto temos receio?!
De nos apegar às pessoas, temos orgulho de nos declararmos, ou mesmo vergonha???
Ainda achamos bonito, ao falarmos de nós mesmos, que damos duro sim, mas é para que o amanhã seja melhor! Será mesmo???Será que amanhã um amigo de meu filho não vai conquistá-lo mais do que eu?
Será que um velho amigo (desses de infância, por exemplo) não se mudará de cidade ou de país e então não será mais possível - ainda que eu queira - revê-lo?
Será que eu não posso perder alguém da minha própria casa...afinal, que controle possuo sobre os outros ou sobre a vida?
É...o fato é que vivemos enfurnados no trabalho, na "Net", nos trabalhos domésticos...E nossa própria vida que, aparentemente, parece estar organizada e progredindo, está na verdade se isolando, tornando-se indolor, amarga, solitária, mecanicista, irreal...
Apaixonar pra quê? Isso é coisa de gente ridícula e que gosta de sofrer!
Esperar o quê? Se tivesse de acontecer, já teria acontecido.
Imediatismos!
Carregamos o estress e o descarregamos em nossos filhos (que são os coitadinhos mais próximos a nós).
Mudamos até o jeito de dizermos que os amamos : quando muito uma vez ao dia - rapidamente - na hora de dormir!
Acordamos já fuzilados de informações, de agendas com anotações, de obrigações...
Mal nos despedimos com um breve e momentâneo "tchau".
Onde mesmo que vamos parar se continuarmos com esta busca desenfreada de vencer...vencer mesmo o quê? Pra quê? Por quem? Até onde?
Vencer mesmo é se arrepender à tempo e, por que não, à hora, ao minuto, ao segundo, ao milésimo de segundo...
Um erro grave é não lutar (até aí concordo) pelo que se quer, pelos seus sonhos...mas quanto vale mesmo nossos sonhos?!
Valem mais que um carinho, um abraço, um beijo, um conselho, um olhar, um toque, um sussurro no ouvido, um "te amo", um "preciso de você", um  "me perdoa, vai!", enfim, será que tem um preço para essas deliciosas coisas que tornam cada dia da vida único e irrepetível?
Filhos, nos perdoem porque somos, não a às vezes, mas na maioria das mesmas, amargos, chatos, incompreensíveis, intolerantes, arrogantes...
Somos tolos porque passamos a maior parte de nosso tempo lendo para nos mantermos informados de "tudo", das notícias do mundo, dos outros...e esquecemos de nos importar verdadeiramente com aqueles que estão à nossa volta e que são tão dependentes de nós, que necessitam tanto, mas tanto mesmo, de nossa atenção, de nosso apoio, de nosso toque...
Amigos, nos perdoem, por favor!
Mandar e-mails é divertidíssimo, mas nem chega aos pés de um tão caloroso e fraternal abraço de "quebrar as costelas", de sentir o perfume novo que sugere a pergunta que não quer calar : "quem é mesmo que te deu?", ver, sentir, cheirar, tocar, conversar pessoalmente é melhor que carta lida, telefonema várias vezes ao dia, e-mails "fresquinhos"...
E, finalmente, mãe, pai, irmãos...
Vocês, sim, que tanto deram duro para me manter de pé até o dia de hoje, me perdoem!
É impossível imaginar o esforço que fizeram para que eu estivesse onde estou e chegasse onde cheguei!
Quantas tardes desperdiçadas, não é mesmo?!
Agora, só nos resta reviver tudo de novo e sempre e totalmente...mais um pouco de todos na mesma intensidade que corremos atrás dos nossos tão "sonhados" sonhos...e correr (não, correr não, é melhor voarmos!) ou quem sabe até viajarmos na velocidade da luz...

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